Você já parou para refletir sobre o quanto o biofilme influencia diretamente em praticamente todos os desafios que enfrentamos na prática odontológica?
Essa fina camada microbiana, muitas vezes invisível a olho nu, está na raiz de condições que variam desde a simples cárie até quadros complexos de periodontite e peri-implantite.
Para o cirurgião-dentista, compreender profundamente a dinâmica do biofilme na odontologia não é somente uma questão de conhecimento acadêmico, mas uma ferramenta indispensável para diagnósticos precisos, tratamentos eficazes e, sobretudo, estratégias preventivas que podem transformar a rotina clínica.
Neste artigo, vamos explorar em detalhes o que é o biofilme dental, seus diferentes tipos, como se forma e quais riscos pode trazer para a saúde bucal e sistêmica.

O que é biofilme dental?
O biofilme dental pode ser definido como uma comunidade microbiana organizada, composta por bactérias, fungos e vírus, envoltos em uma matriz extracelular de polissacarídeos, proteínas e substâncias derivadas da saliva.
Diferente de uma simples camada bacteriana, o biofilme apresenta uma estrutura complexa, na qual os microrganismos estabelecem interações metabólicas e de defesa que lhes conferem maior resistência a antimicrobianos e ao sistema imune do hospedeiro.
Na odontologia, essa formação é considerada um dos principais fatores etiológicos das doenças orais infecciosas.
A sua presença constante, aliada ao metabolismo dos microrganismos que produzem ácidos e toxinas, é capaz de alterar o equilíbrio do ecossistema bucal e desencadear processos inflamatórios de difícil controle.

Tipos de biofilme na odontologia
O biofilme não é uniforme e varia de acordo com a localização anatômica, a composição microbiana e as condições ambientais da cavidade oral.
Podemos classificá-lo em três principais categorias:
Supragengival
Localiza-se acima da margem gengival, principalmente nas superfícies lisas dos dentes, áreas proximais e fissuras oclusais.
É o tipo mais associado à formação de cáries dentárias, pois o metabolismo das bactérias acidogênicas presentes nesse biofilme favorece a desmineralização do esmalte.

Subgengival
Encontra-se abaixo da margem gengival, colonizando bolsas periodontais.
Nesse ambiente anaeróbio, predominam microrganismos patogênicos periodontais, como Porphyromonas gingivalis, Tannerella forsythia e Treponema denticola.
A presença desse biofilme está fortemente relacionada à gengivite e à periodontite, sendo responsável por destruição tecidual progressiva.
Peri-implantar
Forma-se em torno de implantes dentários, geralmente associado à má higienização e ao acúmulo de resíduos.
Esse biofilme apresenta composição semelhante ao subgengival, mas com características particulares devido à superfície do implante.
É o principal fator etiológico da mucosite e da peri-implantite, complicações que comprometem a longevidade dos tratamentos reabilitadores.

Como se forma o biofilme?
O processo de formação do biofilme na odontologia ocorre em diferentes fases, cada uma delas marcada por eventos microbiológicos específicos que tornam a comunidade cada vez mais complexa e resistente.
1ª fase: Adesão
Logo após a escovação, forma-se uma película adquirida sobre a superfície dental, composta por glicoproteínas salivares.
Essa película serve como substrato para a adesão inicial de bactérias pioneiras, como Streptococcus mutans e Streptococcus sanguinis.
2ª fase: Colonização
Com a adesão inicial estabilizada, ocorre a proliferação bacteriana e a chegada de microrganismos secundários, que se ligam às bactérias pioneiras por meio de interações de co-agregação.
O ambiente se torna mais favorável à diversidade microbiana.

3ª fase: Maturação
O biofilme adquire uma estrutura tridimensional organizada, com canais de nutrientes e zonas específicas de atividade metabólica.
Nessa fase, a matriz extracelular já está bem estabelecida, garantindo maior proteção aos microrganismos.
4ª fase: Dispersão
Alguns microrganismos se destacam da comunidade madura e colonizam novas superfícies, ampliando a disseminação do biofilme.
Essa etapa é fundamental para a persistência do desequilíbrio microbiológico na cavidade oral.

Como verificar se o paciente tem biofilme?
O diagnóstico clínico do biofilme na odontologia pode ser feito por inspeção direta, porém, muitas vezes, a visualização é limitada.
Nesse contexto, o uso de soluções evidenciadoras se torna essencial, pois permitem identificar áreas de acúmulo e diferenciar biofilme recente de biofilme maduro.
No ambiente clínico, instrumentos periodontais, sondagem e exames radiográficos complementam a avaliação, sobretudo para detectar biofilme subgengival e peri-implantar.
Além disso, tecnologias modernas como microscopia de contraste de fase e testes microbiológicos moleculares possibilitam um mapeamento ainda mais preciso da microbiota oral.

Quais são os riscos ao ter biofilme dental?
A presença contínua do biofilme está associada a diversas complicações locais e sistêmicas:
- Cárie dentária: resultado da produção de ácidos orgânicos que promovem desmineralização do esmalte e da dentina.
- Doença periodontal: inflamação gengival, destruição do ligamento periodontal e perda óssea alveolar.
- Complicações peri-implantares: mucosite e peri-implantite, que comprometem a osseointegração.
- Halitose: causada pela produção de compostos sulfurados voláteis por bactérias anaeróbias.
- Repercussões sistêmicas: risco aumentado de endocardite infecciosa, complicações em pacientes diabéticos, partos prematuros e até alterações em quadros respiratórios.
Esses riscos reforçam a necessidade de controle rigoroso e contínuo do biofilme, tanto em âmbito preventivo quanto terapêutico.

Como tratar a placa bacteriana?
O tratamento do biofilme na odontologia requer uma abordagem multifatorial, que envolve tanto o manejo profissional em consultório quanto a adesão do paciente às medidas domiciliares.
- Controle em casa: escovação criteriosa, uso de fio dental, escovas interdentais;
- Profilaxia: limpeza periódica realizada pelo dentista;
- Controle químico: utilização de enxaguatórios antissépticos (clorexidina, cloreto de cetilpiridínio, óleos essenciais) que reduzem a carga bacteriana;
- Protocolos clínicos modernos: o Guided Biofilm Therapy (GBT) tem ganhado destaque por integrar métodos minimamente invasivos, como airflow, piezon ultrassônico e polimento suave, resultando em remoção eficaz e maior conforto ao paciente;
- Educação do paciente: orientações personalizadas de higiene oral, de acordo com as necessidades individuais e condições sistêmicas associadas.

Como se prevenir do biofilme?
A prevenção é sempre a estratégia mais eficaz no controle do biofilme.
Para isso, recomenda-se:
- Consultas periódicas de manutenção preventiva.
- Higienização oral adequada e supervisionada pelo cirurgião-dentista.
- Uso de escovas elétricas e dispositivos auxiliares que aumentam a efetividade da limpeza.
- Implementação de protocolos motivacionais no consultório, estimulando a adesão do paciente às práticas de autocuidado.
- Orientação sobre fatores de risco, como dieta rica em açúcares, tabagismo e doenças sistêmicas que favorecem o desequilíbrio microbiano.

Conclusão
O biofilme representa um dos maiores desafios da odontologia moderna, pois está diretamente relacionado às doenças orais mais prevalentes e às complicações que afetam a longevidade de tratamentos reabilitadores.
Reconhecer sua formação, compreender seus riscos e dominar protocolos de tratamento e prevenção são passos fundamentais para oferecer um atendimento de excelência.
Na EAP Goiás, entendemos que o conhecimento atualizado é a chave para transformar a prática clínica.
Há mais de quatro décadas, a instituição se dedica à formação de cirurgiões-dentistas comprometidos com a ciência e a inovação, oferecendo cursos de especialização que unem teoria sólida e prática qualificada.
Referências:
https://www.codental.com.br/blog/biofilme-na-odontologia-saiba-como-controlar-esse-problema
https://profilatica.com.br/biofilme-o-inimigo-oculto-dos-dentistas/
https://saevo.com.br/blog/placa-bacteriana/
https://www.cannabisesaude.com.br/biofilme-dental/
*O texto acima não foi escrito por cirurgião dentista, portanto a EAP não se responsabiliza pelas informações, uma vez que não possuem caráter científico.