A cada ano, o número de pacientes idosos atendidos nas clínicas odontológicas cresce de forma expressiva. E, quando olhamos para esse cenário, percebemos um conjunto de desafios que vão além da técnica convencional.
Atender o paciente idoso exige sensibilidade, conhecimento multidisciplinar e uma compreensão ampliada das mudanças fisiológicas e comportamentais que acompanham o envelhecimento.
Por isso, conversar sobre saúde bucal do idoso é fundamental para que o cirurgião-dentista compreenda como orientar, prevenir e intervir de forma efetiva.
À medida que o profissional se aprofunda na temática, torna-se evidente que pequenas adaptações no atendimento geram grande impacto na qualidade de vida dessa população.
Além disso, compreender os riscos ampliados, como a prevalência de xerostomia, doença periodontal e lesões da mucosa, permite intervenções mais precisas e previsíveis.
Portanto, ao longo deste artigo, vamos explorar como o envelhecimento influencia a cavidade bucal, como direcionar estratégias de cuidado e quais doenças merecem atenção redobrada.
O objetivo é transformar conhecimento técnico em prática clínica eficiente e humanizada, oferecendo ao profissional uma visão completa da saúde bucal do idoso e seu papel na prevenção e na manutenção da funcionalidade oral.

O que é odontogeriatria?
A odontogeriatria é a área da odontologia dedicada ao cuidado da saúde bucal de indivíduos com 60 anos ou mais.
Essa especialidade aborda as repercussões do envelhecimento sobre dentes, periodonto, mucosa oral, funções mastigatórias e articulares, além de considerar aspectos sistêmicos próprios dessa etapa da vida.
Nessa fase, os pacientes apresentam maior prevalência de doenças crônicas, polifarmácia e redução de capacidades funcionais.
Por isso, o atendimento odontogeriátrico requer protocolos personalizados, planejamento interdisciplinar e abordagem preventiva intensificada.
A atuação do cirurgião-dentista inclui manejo de xerostomia, cárie radicular, periodontite avançada, lesões de mucosa, adaptações protéticas e orientações específicas ao paciente, familiares e cuidadores.
Com isso, a odontogeriatria contribui diretamente para melhorar a saúde geral, visto que a cavidade bucal influencia alimentação, imunidade, socialização e bem-estar emocional.
O profissional que compreende essa dinâmica consegue atuar com maior segurança e efetividade diante das particularidades desse grupo etário.

Como é o atendimento odontológico ao idoso?
O atendimento ao idoso deve começar por uma anamnese detalhada e atualizada, considerando medicações, histórico de internações, limitações motoras e declínio cognitivo.
Avaliações rotineiras precisam incluir análise da saliva, inspeção minuciosa da mucosa e detecção precoce de lesões que podem sugerir infecções, traumas protéticos ou neoplasias.
A consulta deve ser conduzida com calma, utilizando comunicação clara e verificando sempre a compreensão do paciente.
Em muitos casos, a presença de um acompanhante ou cuidador facilita decisões terapêuticas e adesão ao tratamento.
No que se refere ao ambiente, ajustes simples fazem diferença: iluminação direcionada, cadeira com inclinação moderada, apoio para cabeça e pausas mais frequentes durante procedimentos longos.
Além disso, o planejamento clínico para saúde bucal do idoso deve priorizar a funcionalidade e o conforto.
Procedimentos invasivos exigem avaliação criteriosa, principalmente em pacientes com doenças cardiovasculares, osteoporose, diabetes descompensada ou em uso de anticoagulantes.
Assim, o dentista garante segurança biológica, previsibilidade e adaptação às condições sistêmicas do idoso.

Importância do atendimento odontológico domiciliar ao idoso
O atendimento odontológico domiciliar representa uma alternativa valiosa para idosos acamados, dependentes ou com mobilidade reduzida.
Essa modalidade amplia o acesso ao cuidado e possibilita intervenções preventivas antes do agravamento de problemas bucais.
Durante a visita domiciliar, o profissional consegue observar fatores ambientais que interferem na saúde bucal, como disponibilidade de escovas, rotina de higiene e suporte oferecido pelos cuidadores.
Essa visão integral favorece orientações personalizadas e estratégias mais efetivas.
Além disso, a odontologia domiciliar reduz riscos associados ao deslocamento, principalmente para pacientes com limitações cardiorrespiratórias ou neurológicas.
E, quando praticada de forma regular, ajuda a prevenir quadros graves, como infecções, estomatites protéticas, traumas por próteses mal adaptadas e piora da xerostomia.
Dessa forma, o atendimento domiciliar fortalece o cuidado humanizado e promove qualidade de vida.

Como o idoso deve cuidar da saúde bucal?
Os cuidados diários precisam ser adaptados às limitações físicas e cognitivas.
Por isso, a orientação profissional deve ser objetiva e prática.
A seguir, apresentamos os principais pontos que devem ser incluídos em qualquer protocolo clínico voltado ao idoso.
Higienização correta das próteses
A higienização das próteses deve ser realizada diariamente, com uso de escovas próprias, sabão neutro e água corrente.
É fundamental orientar o paciente sobre evitar pastas abrasivas, pois elas desgastam a superfície acrílica.
Próteses totais devem ser retiradas antes de dormir e mantidas em recipiente com água limpa.
Além disso, o dentista deve reforçar a importância de revisões periódicas para ajustes, substituição de próteses antigas e avaliação de sinais de estomatite protética.
No caso de próteses parciais removíveis, a inspeção dos grampos e da estrutura metálica deve ser reforçada, assim como a higiene dos dentes pilares.

Remover saburra lingual
A limpeza da língua reduz a halitose, melhora a percepção do sabor e diminui o acúmulo bacteriano.
O uso de raspadores linguais é recomendado, mas escovas macias também podem ser utilizadas.
O ideal é orientar movimentos gentis e regulares, evitando traumas na mucosa atrófica, comum na terceira idade.
O idoso também deve usar fio dental
Mesmo com limitação de destreza manual, o uso do fio dental é essencial, especialmente diante da maior incidência de cárie radicular.
Para idosos com dificuldade de manuseio, o fio com haste auxiliadora ou dispositivos interdentais pode facilitar a remoção do biofilme.
O profissional deve sempre demonstrar a técnica, considerando a anatomia individual e eventuais recessões gengivais.

Hidratação adequada
A hidratação desempenha papel importante no controle da xerostomia.
Idosos tendem a ingerir menor quantidade de água ao longo do dia, frequentemente devido a limitações físicas, rotina inadequada ou presença de doenças.
Estimular a ingestão hídrica, uso de saliva artificial e balas sem açúcar auxilia na lubrificação da cavidade oral.
Além disso, a revisão de medicamentos que reduzem o fluxo salivar deve ser discutida com o médico responsável.
Manter visitas frequentes ao dentista
Atendimentos trimestrais oferecem maior previsibilidade no acompanhamento do idoso.
Essa periodicidade permite controle mais eficiente de doenças periodontais, lesões traumáticas e condições protéticas.
Consultas frequentes também facilitam a educação em saúde e o fortalecimento da relação entre paciente, cuidador e profissional.

Cuidados com idosos dependentes
Idosos dependentes necessitam de acompanhamento diário para garantir que a higiene bucal seja realizada corretamente.
Cuidadores devem ser treinados para utilizar escovas infantis ou ultramacias, gaze embebida em solução antisséptica suave e técnicas adaptadas de escovação.
A supervisão do dentista é essencial para prevenir infecções, lesões traumáticas e acúmulo excessivo de biofilme.
Cuidados com idosos acamados
No caso de pacientes acamados, o risco de pneumonia aspirativa aumenta quando há presença de biofilme espesso.
Por isso, a higiene bucal deve ser rigorosa, preferencialmente com o paciente em decúbito elevado.
Escovas macias, gaze umedecida e uso criterioso de antissépticos auxiliam na redução de carga microbiana.
O acompanhamento profissional regular evita complicações sistêmicas e contribui para o bem-estar geral.

5 doenças bucais mais comuns em idosos
O envelhecimento modifica a cavidade oral e amplia a vulnerabilidade a doenças.
Por isso, conhecer as alterações clínicas mais prevalentes é fundamental para o diagnóstico precoce e o manejo assertivo.
Lesões da mucosa bucal
A mucosa oral fica mais fina, sensível e suscetível a traumas na terceira idade.
Lesões recorrentes podem surgir por próteses desadaptadas, xerostomia, infecções fúngicas e deficiências nutricionais.
A presença de áreas eritematosas persistentes exige atenção, já que alguns quadros podem evoluir para lesões displásicas.
O acompanhamento periódico é essencial para detecção precoce de alterações potencialmente malignas.

Cárie de raiz
A recessão gengival expõe a superfície radicular, favorecendo a instalação de cárie.
O fluxo salivar reduzido agrava o quadro, e a progressão costuma ser rápida, especialmente em pacientes com higiene deficiente.
A abordagem deve incluir controle de biofilme, fluorterapia, restaurações adequadas e monitoramento regular.
Em idosos dependentes, o risco é ainda maior, exigindo protocolos intensificados.
Xerostomia
A xerostomia é uma das queixas mais frequentes entre idosos, frequentemente associada a polifarmácia.
A saliva reduzida compromete mastigação, deglutição, fonética e imunidade oral.
O tratamento envolve estímulo salivar, revisão medicamentosa, saliva artificial e hidratação frequente.
Além disso, o profissional deve orientar alimentos menos irritantes e evitar substâncias que aumentam a secura bucal.

Periodontite
A periodontite apresenta alta prevalência na terceira idade devido ao acúmulo de biofilme, imunoenvelhecimento e presença de doenças sistêmicas, como diabetes.
A perda óssea tende a progredir rapidamente se não houver acompanhamento.
Por isso, o dentista deve realizar raspagens periódicas, manutenção rigorosa e orientações adaptadas.
Em casos avançados, a reabilitação protética deve considerar perdas estruturais extensas.
Câncer de boca
O câncer bucal apresenta maior incidência após os 60 anos.
Fatores como tabagismo, etilismo, exposição solar cumulativa e próteses mal adaptadas aumentam o risco.
Toda lesão persistente deve ser investigada, especialmente áreas ulceradas que não cicatrizam em até 14 dias.
A detecção precoce aumenta de forma significativa as chances de tratamento bem-sucedido, reforçando a importância dos exames periódicos.

A saúde bucal do idoso exige atenção diferenciada, manejo clínico cuidadoso e uma visão ampliada dos fatores sistêmicos que influenciam a cavidade oral.
Quando o dentista compreende essas necessidades, consegue oferecer tratamentos mais seguros, preventivos e humanizados, promovendo qualidade de vida e autonomia ao paciente.
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Referências:
https://www.dentaloffice.com.br/tudo-sobre-odontogeriatria
https://viverbem.unimedbh.com.br/qualidade-de-vida/saude-bucal-do-idoso
https://sorridents.com.br/blog/conheca-5-doencas-bucais-em-idosos-que-sao-muito-comuns/
https://equipeesperancaevida.com/saude-bucal-do-idoso/
*O texto acima não foi escrito por cirurgião dentista, portanto a EAP não se responsabiliza pelas informações, uma vez que não possuem caráter científico.